Não resisti. Preciso compartilhar minha peculiar viagem na
maionese relacionada ao misterioso Faraó egípcio da Décima Oitava Dinastia, cujo reinado
foi de 1364 a.C. a 1347 a.C.
Trata-se de Akhenaton, o segundo filho homem do faraó Amenhotep
III e da rainha Tiye. Poucos dados históricos se tem sobre a vida desse
extraordinário faraó, cuja fama passa por revolucionário, herege, corrupto,
gênio, extraterrestre, antecessor de Moisés no que se refere ao monoteísmo e
vai até uma personalidade de suma importância na origem das ciências místicas e
esotéricas.
Na verdade eu não sei nem porque resolvi escrever sobre
isso, talvez porque ontem tenha sido o dia do autismo, quem sabe a gente não
possa colorir de azul essa pessoa notável lá de um dos pontos do início da
história de nossa civilização. Akhenaton, indivíduo de minha mais profunda
admiração, era um ser diferente, “esquisitão” e tinha uma fixação maravilhosa
em Aton, o Deus único. Seria ele uma pessoa que hoje enquadraríamos no espectro
autista?
Vamos ver.
Seu nome original era Amenhotep IV. Ele não era para ter
sido faraó, pois tinha um irmão mais velho, Thutmose V e esse seguiria o
reinado de seu pai. Mas eis que o príncipe Thutmose morre ainda criança e como
consequência seu irmão, o menino Amenhotep IV assumiria seu lugar.
Mas Amenhotep IV não era uma criança comum. Era de fato uma
criança especial. Ele nunca aparecia em público, era normalmente mantido em
casa, longe das vistas do povo. Seu comportamento era meio diferente, ele não
gostava de multidões, era lento, desajeitado, seus movimentos eram estranhos, sua
coordenação motora era precária e sua mãe tinha um grande zelo por ele. Por que
um futuro faraó era mantido praticamente escondido das pessoas enquanto o comum
de se ver era exatamente o contrário?
Nessa época o Egito era politeísta e a crença no deus Amon
era predominante. Amon era um dos oito deuses do Egito antigo e na Décima
Segunda Dinastia ele foi adotado em Tebas como o rei dos deuses. No Novo
Reinado, a partir da Décima Oitava Dinastia, manifestado como Amon-Ra, o deus
era considerado o pai e protetor do faraó, e ganhou um destaque tão grande que
uma espécie de monoteísmo que o cultuava se evidenciava. O clero ganhava poder
já que Amon-Ra revelava-se aos sacerdotes que controlavam os oráculos divinos.
O poder dos sacerdotes de Amon era grande a ponto de fazer páreo com o poder do
faraó, fato que preocupava bastante Amenothep III, já doente e no final de seu
reinado.
Então finalmente chega o dia do rapazinho Amenhotep IV
assumir o reinado. O Egito nessa época se encontrava no auge de sua glória
imperial. O país estava seguro, rico e próspero. Nas margens do rio Nilo eram
construídos templos em homenagem aos deuses, pois acreditava-se que se os
deuses estavam felizes, o país prosperaria.
Amenhotep em seu primeiro ano como faraó já dava mostras de
seu comportamento muito diferente para a época. Ele fixa-se na ideia do deus único,
Aton e passa a divulgá-lo como o Deus todo poderoso fazendo uma reforma
religiosa no país. Aton era representado por um disco solar com raios longos que
terminavam em mãos generosas abençoando o faraó e sua família. Os sacerdotes de
Amon já passam a ter poderes bem menores do que o faraó. O jovem faraó construiu
um grande templo para Aton em Karnak, bem de frente ao templo de Amon. As
características artísticas da arquitetura e dos desenhos e pinturas passam a
ter um estilo inteligente e totalmente diferente do comum. Tudo que se refere a
Amon passa a ser destruído e Aton passa a ser ressaltado mais ainda. Ele se
casa com a bela Nefertiti, seu braço direito em seu mandado, com quem teve seis
filhas ao longo do tempo. Ele possuía outras esposas de importância secundária,
e com uma delas, Kiya, vários anos depois, teve seu filho homem, Tuthankaton.
Lá pelo quinto ano de seu reinado Amenhotep IV (cujo nome
significa Amon está contente) muda seu nome para Akhenaton (espírito vivo de
Aton), e constrói uma nova cidade chamada Akhetaton (conhecida hoje por Amarna)
e muda-se para lá com sua família e dali
passa a governar o Egito. Amarna era seu isolamento, era onde ele poderia
vivenciar seu mundo particular e expressar as suas ideias políticas, sociais,
religiosas e monoteístas, e essas ideias eram refletidas na expressão artística
da época. As estátuas de Akhenaton o retratavam com um corpo andrógeno, com os
seios e abdômen proeminentes. Dizem ser uma forma de expressar Aton e seus
lados feminino e masculino.
Akhenaton tinha uma forma muito única e bonita de expressar
Aton. O faraó amava seu Deus, e Deus amava o povo. Tornar o povo livre era
libertar a vontade do povo, e se essa era a vontade de Aton, também era a
vontade do rei. Era um homem da paz e do bem, que não gostava de injustiças,
não queria guerras. Durante um tempo de seu reinado ele sentiu-se pleno e realizado
sob as bênçãos de um único Deus. Ali nascia toda uma nova filosofia divina que
no futuro ganharia força através de Moisés e mais adiante seria consagrada por
Jesus.
Nesse meio tempo, pelo Egito, pessoas do povo mantinham seus
cultos a Amon. O Egito que já iniciara um declínio no início do reinado de
Akhenaton , entrava em total decadência. O governo econômico e político do
faraó não era dos melhores, pois seu mundo particular estava tão ligado a Aton
que, creio eu, ele não deu muita importância em resolver o resto dos assuntos
de seu mandado. Após dezessete anos de reinado, Akhenaton morre e o Egito passa
a ser reinado por seu filho, ainda criança.
Amon volta a ganhar força, o nome do pequeno faraó, por
motivos políticos e para o agrado dos sacerdotes de Amon, é mudado para
Tuthankamon, e este casa com sua irmã. Mas Tuthankamon não consegue reinar por
muito tempo e morre muito cedo. Os faraós que se seguiram voltaram a cultuar
Amon e Akhetaton/Amarna foi extinguida. Tudo que lembrava Akhenaton e suas ideias
monoteístas foi destruído e praticamente nada restou que pudesse lembrar o
faraó considerado herege.
E essa é a história resumida da vida de um faraó que
precisou se isolar de sua história original e das crenças de seu povo para
viver de acordo com suas próprias regras. Um tracinho de autismo? Figura Asperger? Quem sabe!
Mas, lendo alguns versos de seu Hino a Aton, podemos ter uma
ideia da alma evoluída que tinha aquele faraó diferente e especial:
“Apareces cheio de beleza no horizonte do céu, disco vivo
que iniciaste a vida. Enquanto te levantaste no horizonte oriental, encheste
cada país da tua perfeição... Porque és Sol, conquistaste-os até aos seus
extremos, atando-os para teu filho amado. Por longe que estejas, teus raios
tocam a terra. Estás diante dos nossos olhos, mas teu caminho continua a
ser-nos desconhecido...Se te levantas, vive-se; se te pões, morre-se. Tu és a
duração da própria vida; vive-se de ti...”
Bom, se minha imaginação pecou, pelo menos voamos um pouco
pela história mais bonita do Egito Antigo. Mas caso Akhenaton estivesse no
espectro, ainda assim ele tinha uma missão especial e revolucionária de mudar o
mundo e conectar seu povo com Deus, com muita Luz, Vida e Amor.
Talvez o autismo traga disfarçadamente uma missão bem altruísta
para nossas crianças. Viajei de novo? Quem sabe...
Paz Profunda!
Amei, só quem convive e pesquisa poderia ter essa visão, além de uma aula de História como poucas. Bjs
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